O texto básico da revista cita Gn. 6.13-18, mas a história de Noé, diferente dos dois homens das aulas anteriores, é mais detalhada na Bíblia, indo até Gn. 10. Então, para iniciarmos, gostaria de comentar o que está escrito em Gn. 6:2: "E viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram".
Há teólogos que defendem nesse caso que os filhos de Deus seriam os demônios, e eles teriam se casado com mulheres, gerando assim filhos. Tal ideia não merece subsistir, pois em Mt. 22:30 Jesus nos diz que na ressurreição nós seremos como anjos do céu, e os mesmos não se casam. A interpretação correta de Gn. 6:2 é no sentido de que tais nomenclaturas são baseadas nas descendências de dois filhos de Adão: Caim e Sete. Caim, como estudado na 1ª aula, matou o seu irmão Abel, e a sua linhagem era ímpia, enquanto a descendência de Sete era piedosa. Porém, essa mistura levou a iniquidade que levou todos, com exceção da família de Noé, para a ruína.
O nome Noé significa repouso. Noé era neto de Matusalém, o homem de maior idade registrado na Bíblia; como o seu avô foi contemporâneo de Adão por mais de duzentos anos, com certeza ficou sabendo de todo o agir de Deus nos anos anteriores ao do seu nascimento, crescendo assim no temor do Senhor.
Mas por que Deus escolheu Noé? Em Gn 6.9 a Bíblia diz que Noé foi um homem justo e reto, o que podemos entender por tais imputações? O termo justo significa um bom relacionamento com Deus, enquanto ser reto é sinônimo de ser íntegro. Se repararmos em Gn. 7.1, Deus chamou apenas Noé de justo, mas permitiu que toda a sua família entrasse também na arca, ou seja, transportando isso para os dias de hoje, podemos afirmar que muito pode a oração de um justo, e por esse motivo nunca devemos deixar de orar pela salvação e libertação dos nossos parentes.
O temor do Senhor foi outra razão de Noé ter sido escolhido por Deus para construir e entrar na arca. Segundo as Escrituras, o temor do Senhor é o principio da Sabedoria (Sl. 111:10). Nos dias de Noé o pecado abertamente se manifestava no ser humano, de duas principais maneiras: a concupiscência da carne e a violência, mas Noé mantinha-se afastado de tudo o que pudesse desagradar a Deus. Noé tinha convivência com as pessoas, ele não era um monge budista que precisa ficar isolado de todos, mas a sua comunhão com Deus era suficiente para não se contaminar com as coisas do mundo.
Antes de firmar o seu concerto com Noé, a Palavra de Deus nos diz em Gn. 6:5,6 que o Senhor se arrependeu. O que seria esse arrependimento de Deus? Tal arrependimento significa, em outras palavras, a maldade, a degeneração humana que entristeceu o coração do Criador. A linguagem neste versículo é a de que os teólogos chamam de antropopática (antro=homem; phatos= sofrimento, paixão), pois Deus é descrito com sentimentos humanos, como em Gn. 1.31. Contudo, Deus não se arrepende como um ser humano o faz - Nm. 23:19.
Ao dizer que estabeleceria um pacto com Noé, o Senhor contrasta a punição anunciada anteriormente com a sua misericórdia. Esta é a primeira vez que a palavra aliança foi usada na Bíblia, apesar do seu conceito já ter sido utilizado em Gn. 3:15. Deus informou tudo o que Noé precisava fazer e firmou o compromisso com ele.
Em Noé ter achado graça ante Deus reside à esperança de toda história humana subsequente. Afinal, a esperança de recomeço não foi apenas para um homem e a sua família que não participaram da maldade, mas também para Deus com relação à humanidade.
A total obediência de Noé é similar a de Abraão. Deus mandou Noé construir uma arca, mas ele nunca tinha sequer visto uma. Apesar disso, em total fé e confiança no Senhor, com quem ele andava, Noé, conforme tudo o que Deus lhe mandou, assim o fez. Por isso Noé está no rol da fé de Hb. 11. Porém, sempre deve-se ressaltar que Noé era homem, ou seja, não era perfeito, como nos relata a sua embriaguez em Gn. 9:20-27.
Alguns outros exemplos de fé podem ser citados como semelhantes ao de Noé, onde uma suposta razão não prevaleceu frente a fé: 1) Quando Lázaro estava morto, Marta poderia duvidar da sua ressurreição; 2) Quando Abraão estava com 100 anos, poderia ter duvidado que seria pai; 3) Quando a viúva só tinha um pouco de farinha e azeite poderia ter duvidado de Elias, mas o seu alimento foi multiplicado de forma milagrosa.
O que podemos notar é que antes de haver o dilúvio já existia a pregação da justiça. Vejamos 2. Pe. 2:5 - "E não perdoou ao mundo antigo, mas guardou a Noé, pregoeiro da justiça, com mais sete pessoas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios". A arca representou a salvação divina, além da paciência, pois a construção da arca durou 120 anos, e nesse tempo ninguém quis ouvir a voz de Deus, ninguém se arrependeu. Ao mesmo tempo que construia a arca, Noé ia pregando a palavra de Deus; se vivesse hoje, Noé não seria considerado um pregador bem sucedido, pois apenas sete pessoas entraram na arca, porém, a Palavra de Deus nos diz que há festa no céu quando uma alma se rende ao Senhor, então Noé cumpriu o propósito de Deus para a sua vida. O Senhor quer que os homens preguem a sua palavra, mesmo com respostas negativas a tais apelos.
A palavra arca significa objeto apropriado para flutuar, e a arca que Noé construiu tinha a capacidade de comportar cerca de 7000 espécies diferentes de animais. A Bíblia é bem clara na duração do dilúvio, da quantidade de cada espécie animal ali presente, mas vale a pena fazer o seguinte registro: dos animais que Noé soltou para ver se a Terra já estava seca, a pomba possui uma mensagem alegórica, pois ela representa o Espírito Santo. A primeira vez que Noé soltou a pomba aponta para o Espírito Santo no antigo testamento. A segunda vez, para o ministério de Cristo, e a terceira para o dia de pentecoste, quando o Espírito Santos desceu a terra, e, desde então, aqui permanece.
O meio da salvação, a arca, era uma clara figura de Cristo. Passando pelas águas da morte, saiu a salvo numa nova criação - um mundo além do juízo - e os refugiados nela escaparam da sorte dos ímpios. Assim, Cristo nos salva pela sua morte e ressurreição.
O incidente do dilúvio é, sem dúvida, o exemplo clássico de juízo divino, e por isso deve ser aceito como o tipo e ensino do Espírito Santo sobre o assunto. Lemos em Is. 28:21 que juízo é a obra estranha do Senhor (Is. 28:21 - "Porque o Senhor se levantará, como no monte de Perazim, e se irará, como no vale de Gibeão, para fazer a sua obra, a sua estranha obra, e para executar o seu ato, o seu estranho ato"). O juízo tem cinco aspectos: 1) é para a glória de Deus; 2) é para a instrução das nações (Is. 26:9); 3) é purificador (Gn. 15:16 e Lv. 18:25); 4) é, consequentemente, uma libertação do mal; 5) é profético (Lc. 17:26,27).
Em Gn. 9:3-5, percebemos três novas realidades marcam o período pós-dilúvio: 1) a carne poderia ser comida com os vegetais. Tendo em vista essa ordem, presume-se que até aquele momento os homens e as mulheres alimentavam-se apenas de vegetais; 2) o sangue não poderia ser ingerido com a comida; 3) aquele que derramasse sangue teria de prestar contas de tal ato.
A Bíblia diz que aquele que perseverar até o fim será salvo. A nossa volta alguns desanimam e deixam sua comunhão com Deus para voltarem a vida que levavam, enquanto outros se cansam de fazer o bem e abandonam o seu ministério. Porém, Deus não tem prazer nenhum nessas atitudes. Depois que saiu da arca, Noé edificou um altar para o Senhor, ou seja, apesar de passarmos por problemas e dificuldades, o Senhor as passa conosco, e todos os problemas serão resolvidos para a honra e glória do Senhor Jesus.
Fontes:
- Revista "Heróis do Antigo Testamento" - Editora Central Gospel;
- A Bíblia Explicada;
- Novos Comentários Bíblicos - Antigo Testamento.